Um pouco de história
Também chamada de capoeira mãe, o jogo de Angola, é a origem da capoeira, é a modalidade de capoeira que mais se aproxima daquela que seria a “capoeira dos escravos”. A Capoeira Angola é muito manhosa e precisa saber jogar, para entrar numa roda. Cheia de preceitos e regras a serem seguidas, chega a parecer mais uma cerimônia ritualística do que um jogo ou uma luta. Seu toque lento e cadenciado, suas ladainhas tristes e sofridas, conseguem fazer qualquer pessoa se apaixonar por esse jogo. A capoeria Angola é a mais antiga forma de jogar capoeira que existe hoje. Graças a Mestre Pastinha, que praticamente viveu sua vida pela capoeira, ela foi preservada de tal forma que ainda hoje encontramos escolas onde se jogam como se jogava no seculo IX. E todos os mestres “angoleiros” – como são chamados – fazem questão de manter essas tradições e repassa-las aos seus alunos, para que ela não perca as suas raízes. Dentro da capoeira angola não há espaço para inovações ou mudanças porque se isso ocorresse estaria ferindo as suas características deixando de ser o jogo uma manifestação cultural que deu início à tudo o que se refere a capoeira hoje. Por tanto a capoeira angola deve ser mantida como ela é e sempre foi. Por isso de ser chamada de a capoeira Mãe.
A origem do nome
Provavelmente o nome capoeira angola (não se confuda com “capoeira angolana” que nada mais seria do que a capoeira introduzida em Angola por brasileiros) tenha surgido pelo fato de o principal porto onde atracavam os navios negreiros se localizava em Angola e para os portugueses, qualquer negro trazido ao Brasil era normalmente considerado de Angola. Isso deve ter permanecido até depois da abolição, quando os negros assim libertos mas colocados em condição desfavorável, tiveram que escolher entre trabalhar para os seus antigos donos, agora patrões, ou cair na marginalidade. E assim, ainda depois da abolição continuaram a ser tratados como “negros de Angola”. Provavelmente nesse período os ex-escravos já praticavam o que daria origem a capoeira angola com não muito, mas já com alguma liberdade, pelas ruas e campos. Coisa que aos olhos dos colonizadores seria visto como uma vadiagem ou um jogo de negros, jogo dos negros de Angola ou simplesmente jogo de Angola. Como o termo capoeira já existia desde a época dos quilombos para designar um escravo que fugia, um escravo podia muito bem ser chamado de “capoeira de Angola.”
A capoeira angola é quase ritualística, cheia de preceitos que devem ser obedecidos com muita atenção. No jogo de angola, os movimentos são lentos, mas traiçoeiros. É um jogo de muita malícia, onde se entende por malícia, a capacidade do capoeira de enganar o seu parceiro fingindo aplicar um golpe e na verdade aplicar outro onde menos se espera e no momento em que menos se espera também. Dentro da capoeira angola esses fatores são fundamentais que só com a experiência se pode conseguir.
Mestre Pastinha dizia que o bom capoeira não suja a roupa e nem perde o chapéu. Não precisa acertar efetivamente o companheiro, mas deve-se parar o pé no momento certo mostrando a este a superioridade em atingi-lo caso assim desejasse.
Bateria
A bateria de instrumentos apresentada aqui como era na academia de Mestre Pastinha.
- Três berimbaus: gunga, médio e viola;
- Um ou dois pandeiros;
- Um atabaque;
- Um reco-reco;
- Um agogô;
Ladainha
É obrigatoriamente cantada por quem toca o berimbau gunga que geralmente é o mestre. São canções em ritmo de lamento, lembram sempre alguma história, um mestre ou algum fato importante. Serve como introdução para o início do jogo. Durante a ladainha não se bate palmas e não se toca nenhum instrumento com exceção dos berimbaus que entram pela ordem: gunga, médio e depois o viola.
Chula
Após a ladainha, o mestre canta a chula que é uma cantiga de pequenas estrofes, onde todos os instrumentos entram e o coro responde. É uma louvação a Deus ou aos mestres presentes e aos que já faleceram. É o famoso “Viva meu Deus / Iê viva meu Deus camará.” A chula é uma preparação para o “corrido.” Quando a chula atinge os versos “Da volta ao mundo camará” os dois capoeiras se cumprimentam saúdam o berimbau com um movimento chamado de “queda de rins” e começam a jogar.
Corrido
Os corridos são canções no formato pergunta e resposta onde uma pessoa canta e o coro responde.
As chamadas
Durante o jogo podem ocorrer as chamadas, movimentos que servem para testar o parceiro com quem está jogando. Quando se faz uma chamada o parceiro deve ter o máximo de cuidado, pois a chamada é uma armadilha onde se visa surpreender o parceiro. Os Mestres mais experientes fazem chamados como forma de distrair o companheiro e atingi-lo de surpresa. Há vários tipos de chamada: de frente, de costas, sapinho e outras. Se o parceiro não quiser responder a chamada ele deve ir até o pé do berimbau e chamar o seu camarada para uma nova saída.
Na capoeira angola não se compra o jogo, isto é, deve-se esperar que os dois jogadores saiam da roda para que outros dois comecem um novo jogo.
Curiosidades
Na Bahia era costume os mestres Angoleiros se encontrarem aos domingos na porta de igrejas para jogar a capoeira. Esses mestres vestiam-se de terno de linho branco e chapéu, como se fossem vestidos para algum evento importante, o que na verdade realmente o era. Era o momento em que sua cultura estava sendo praticada e perpetuada.
Mestre Pastinha
Mestre Pastinha foi o maior divulgador da capoeira angola. Praticamente viveu sua vida inteira pela capoeira. Implementou métodos de ensino, fundou a primeira academia de capoeira chamada de C.E.C.A, o Centro Esportivo de Capoeira Angola e foi convidado para ir até a África mostrar a nossa arte. Pastinha partiu deste mundo em 13 de novembro de 1981, deixando muitos discípulos entre eles, Natividade, Bola Sete, Boca Rica, Gildo Alfinete, Meio Quilo, Colmenero, João Pequeno, João Grande, Malvadeza, Curió, entre outros, que continuaram a ensinar e fizeram com que o jogo permanecesse até hoje tradicionalmente como era antigamente com todas as suas tradições e rituais e como na verdade deve ser.
Fonte: http://capoeiraexports.blogspot.com.br/2011/01/capoeira-angola-e-mestre-pastinha.html
Capoeira - No exterior é conhecida como "brazilian martial art"
Capoeira: uma prática genuinamente brasileira
A capoeira talvez seja a expressão do que há de mais brasileiro em termos de atividade física, já que se trata de uma luta criada no Brasil por escravos de origem africana. Isso é tão significativo que no exterior a capoeira é conhecida como “brazilian martial art”, ou arte marcial brasileira. Por ser praticada em grupo e acompanhada de música constante que impõe ritmo aos movimentos, muitas pessoas a confundem com um jogo ou algum tipo de dança, mas como já disse Mestre Pastinha: “Capoeira Angola é, antes de tudo, luta, e luta violenta”.
O termo capoeira significa “o mato que nasce depois do desmatamento”, provavelmente porque era praticada entre esses matos, com os lutadores próximos ao chão, para não serem descobertos pelos seus senhores. É preciso dizer que nessa época a capoeira era uma prática proibida, pois com os escravos treinando sua forma de defesa pessoal, poderiam trazer problemas para aqueles que se consideravam seus “donos”. No entanto, ainda que proibida, a capoeira nunca deixou de ser praticada e ensinada.
Em sua forma original, como já mencionado, a capoeira era uma luta lenta jogada muito próxima ao chão, muito diferente daquela capoeira que é ensinada em academias ou jogada nas praias do Rio de Janeiro: a capoeira regional. Foi em meados do século XX que houve essa ruptura, resultando na prática da capoeira angola praticamente restrita aos guetos baianos. A capoeira regional apresenta movimentos mais acrobáticos, é jogada em pé e tem regras específicas, elemento característico de um esporte. Outra diferença importante entre esses dois tipos de capoeira é o modo como um membro se torna mestre: na capoeira regional, conforme os praticantes vão desenvolvendo melhor suas habilidades, aprendendo golpes diferentes e pensando sobre esses golpes, eles vão sendo graduados por meio de um cordão, em que cada cor representa um estágio em que o praticante está classificado, assim ele vai adquirindo novos cordões até se tornar um mestre. Na capoeira angola o processo é bastante diferente: após muitos anos de prática e de dedicação ao mestre e à capoeira, o praticante recebe do mestre um lenço, que representa que esse discípulo está pronto para ser mestre. Assim, na capoeira angola, a formação do mestre depende exclusivamente da vontade do mestre que ensina.
Outra característica importante da capoeira é a música. A música é sempre tocada por membros da roda que se revezam, e é acompanhada de uma regra fundamental: os membros da roda sempre precisam responder ao canto, também chamado de ladainha. As ladainhas são acompanhadas pelo toque de alguns instrumentos: pandeiro, atabaque, caxixi, agogô e reco-reco.
Talvez, o mais interessante das ladainhas sejam as suas letras que remetem ao cotidiano dos escravos, ao momento da roda de capoeira, aos deuses do candomblé (religião de origem africana) e do catolicismo, e à relação entre homem e mulher. Seguem alguns exemplos:
•“Eu vou dizer ao meu senhor que a manteiga derramou/A manteiga não é minha/A manteiga é de ioiô” (ladainha de cotidiano, lembrando dos escravos que trabalhavam na cozinha);
•“Oi sim sim sim/ Oi não não não” (ladainha de roda, cantada para quando a luta está empatada);
•“Salomé, Salomé/ Eu já vi homem barbado apanhar de mulher” (ladainha de roda, cantada para quando tem algum homem perdendo de uma mulher);
•“Salomé, Salomé/ Eu já vi homem barbado apanhar de mulher” (ladainha de roda, cantada para quando tem algum homem perdendo de uma mulher);
•“Sai sai Catarina/ Saia do mar venha ver Idalina” (ladainha religiosa em homenagem a Iemanjá);
Percebe-se, então, que a capoeira é muito mais do que uma simples atividade física: ela é um elemento definidor de identidade brasileira. Ela agrega religiosidade, movimento corporal, música e história, tudo isso em uma única prática. Por isso, quando seu professor for ensinar capoeira à sua turma, cobre que ele não ensine apenas os movimentos, mas que ele também aborde o contexto cultural em que esses movimentos estão envoltos, assim sua aula será muito mais completa.
E para terminar o texto, a ladainha com a qual as rodas de capoeira terminam:
“Adeus, adeus/ Boa viagem/ Eu vou-me embora/ Boa viagem/ Eu vou com Deus/
E Nossa Senhora”.
“Adeus, adeus/ Boa viagem/ Eu vou-me embora/ Boa viagem/ Eu vou com Deus/
E Nossa Senhora”.
Por Paula Rondinelli
Colaboradora Brasil Escola
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Doutoranda em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo - USP
Colaboradora Brasil Escola
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Doutoranda em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo - USP
Fonte: http://www.brasilescola.com/educacao-fisica/capoeira.htm
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